quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Extractos duma entrevista ao Cardeal Dário Castrillon

EC: No Motu Proprio, a ênfase do Papa é em um Rito e duas formas, e ele descreve o Rito Tridentino como “extraordinário”. Extraordinário portanto significa excepcional, algo que não celebramos todo domingo.
Cardeal Castrillon: Não “excepcional”. Extraordinário significa “não ordinário”, e não “excepcional”.
DT: Existirá um esclarecimento sobre o Motu Proprio?
Cardeal Castrillon: Não exactamente um esclarecimento do Motu Proprio, mas de matérias tratadas no Motu Proprio, tais como o calendário, ordenações ao sub-diaconato, o forma de usar os paramentos, o jejum eucarístico.
DT: E quanto ao “grupo estável”?
Cardeal Castrillon: Isso é uma matéria de senso comum… Em todo palácio episcopal existem talvez três ou quatro pessoas. Isso é um grupo estável…. Não é possível dar a duas pessoas uma missa, mas duas aqui, duas ali, duas acolá – eles podem tê-la. Eles são um grupo estável.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

-Eminência , qual o balanço que faz da promulgação do Motu próprio que ocorrreu há alguns meses?

-Com o Motu próprio o Papa quiz dar a todos uma oportunidade renovada de usufruir da enorme riqueza espiritual, religiosa e cultural presente na liturgia do rito gregoriano.O Motu próprio nasce como tesouro oferecido a todos, e não para vir ao encontro dos pedidos de alguns .Muitos dos que antes não sentiam qualquer relação com esta forma extraordinária do rito romano, agora manifestam grande estima pela mesma.
DT: Então o Papa gostaria de ver muitas paróquias fornecendo o Rito Gregoriano?

Cardeal Castrillon: Não muitas – todas as paróquias, pois isso é um dom de Deus. Ele oferece essas riquezas e é muito importante para as novas gerações conhecer o passado da Igreja. Esse tipo de liturgia é tão nobre, tão bonito – a mais teológica das formas de expressar nossa fé. A liturgia, a música, a arquitectura, as pinturas, fazem um todo que é um tesouro. O Santo Padre está desejoso de oferecer a todas as pessoas essa possibilidade, não apenas para poucos grupos que pedem, mas para que todos conheçam essa forma de se celebrar a eucaristia na Igreja Católica.
Hoje , segundo o missal do Beato João XXIII(1962), ocorre a festa em honra de Nossa Senhora da Mercês

Padroeira de Barcelona

Em castelhano foi chamado, no plural, Virgen de las Mercedes, que não corresponde com o sentido original de dedicação.
O significado do título " Mercês" é acima de tudo "misericórdia". A Virgem é misericordiosa e também o devem ser seus filhos. Isso significa que recorremos a Ela com o desejo de assemelhar-nos a Jesus Misericordioso.
O título de Mercês remonta à fundação da Ordem religiosa dos Mercedários a 10 de agosto de 1218, em Barcelona, na Espanha .Nessa época muitos foram detidos pelos mouros e, em seu desespero e abandono estavam em risco de perder o dom mais precioso: a fé católica.
Nossa Mãe do Céu, dando-se a conhecer com o título da Mercês , quiz manifestar a sua misericórdia para com eles através desta ordem dedicada a atendê-los e libertá-los.
Desde o décimo terceiro século é a padroeira de Barcelona e em 25 de setembro de 1687 foi oficialmente proclamada padroeira da cidade.Ela também é padroeira dos presos e de muitos países da América Latina.
No ano de 1696 , o Papa Incêncio XII estendeu a festa de Nossa Senhora das Mercês para a Igreja inteira, e fixou a data do 24 de Setembro.
Declarações do Cardeal Stickler
prefeito emérito dos Arquivos do Vaticano
sobre a Missa de S. Pio V
no Congresso de Christi Fideles, Nova York, maio de 1995
"A Missa nova deveria chamar-se "missa da comissão litúrgica pós-conciliar":
"Pela constituição do Vaticano II sobre a liturgia é evidente que a vontade do Concílio e a vontade da comissão litúrgica muitas vezes não coincidem, e até se opõem de maneira clara.
A missa de Paulo VI ... põe antes em evidência o aspecto geral da missa, a saber a Comunhão; o que resulta em transformar o Sacrifício naquilo que é permitido chamar um banquete.
O lugar importante dado às leituras e à pregação na nova missa, a possibilidade mesma deixada ao padre de acrescentar explicações e palavras pessoais é uma reflexão a mais sobre o que é legítimo chamar de uma adaptação à idéia protestante de culto..."
"A recente mudança na localização do altar, bem como a posição do padre de frente para a assembléia - proibidas antigamente - tornam-se hoje o sinal de uma missa concebida como reunião da comunidade."
"Santo Tomás de Aquino consagra todo um artigo para justificar o "mysterium fidei". E o Concílio de Florença confirma explicitamente o "Mysterium fidei" na fórmula da Consagração. Em nossos dias, o "mysterium fidei" foi eliminado das palavras da Consagração na nova liturgia. Por que então?
Foi concedida igualmente a licença de dizer outros cânones. O Segundo Cânon - que não menciona o caráter sacrifical da missa - tem, não há dúvida, o mérito de ser o mais curto, mas, de fato, suplantou por toda a parte o Cânon romano.
Foi assim que nós perdemos o profundo sentido teológico dado pelo Concílio de Trento."
"Por essas mesmas razões, o cânon 9 do Concílio (de Trento) estabelece a excomunhão para aqueles que afirmam que o rito da Igreja Romana no qual parte do Cânon e as palavras da Consagração são pronunciadas em voz baixa, deve ser condenado."
"O emprego do vernáculo acarretou sérias incompreensões e erros doutrinais, ele produziu a "desunião": Esta Babel de cultos públicos tem por resultado a perda da unidade externa no seio da Igreja Católica (...). Devemos admitir que, em poucos decénios, depois da reforma da língua litúrgica, nós perdemos esta oportunidade de rezar e de cantar juntos".
"Em terceiro lugar, a reforma que se seguiu ao Vaticano II destruiu ou transformou a riqueza de numerosos símbolos litúrgicos".

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O Diabo atenta Padre Pio

O diabo existe e seu papel activo não pertence ao passado e não pode ser reduzido ao espaço da fantasia popular. Na realidade, o diabo continua a induzir os homens ao pecado mesmo hoje. Por tal razão a atitude do discípulo de Cristo frente a Satanás tem que ser de vigilância e de luta e não de indiferença. Na realidade a mentalidade de nosso tempo relegou a figura do diabo à mitologia e ao folclore. Baudelaire afirmava justamente que a obra-prima de Satanás, nos tempos modernos é induzir as pessoas a não acreditarem na sua existência. Consequentemente não é fácil imaginar que Satanás deu mostras da sua existência mesmo quando ele foi forçado a se expor para afrontar o Pe. Pio em "duros combates". Tais batalhas eram brigas sangrentas, como foi escrito em muitas cartas que Pe. Pio enviava aos seus directores espirituais.

Em 1906 aconteceu um dos primeiros contactos que Pe. Pio teve com o príncipe do mal. Pe. Pio tinha retornado ao convento de Sant'Elia de Pianisi. Uma noite de verão em que ele não conseguia dormir por causa do grande calor ouviu o barulho dos passos de alguém, que no quarto vizinho, caminhava para lá e para cá. "O pobre Anastasio não pode dormir como eu.", pensou Pe. Pio. " Quero chamá-lo, pois, pelo menos conversamos um pouco ". Ele foi até a janela e chamou o confrade mas sua voz permaneceu presa na garganta: no parapeito da janela vizinha, um monstruoso cão se apoiava. Assim contava o próprio Pe. Pio: "Vi horrorizado entrar pela porta um enorme cão feroz de cuja boca saia muita fumaça. Eu caí de bruços na cama e ouvi o que ele dizia: "é este, é este!". Ainda naquela posição vi a fera pular sobre o parapeito da janela e de lá lançar-se sobre o telhado da frente para em seguida desaparecer.

"O Diabo submeteu Padre Pio à tentações em todos os sentidos. Padre Agostino confirmou que o diabo apareceu a ele de diferentes formas: "O diabo apareceu como meninas jovens que dançavam nuas, em forma de crucifixo, como um jovem amigo dos monges, como o Pai Espiritual, como o Padre Provinciano, como Papa Pio X, como o Anjo da Guarda, como São Francisco e como Nossa Senhora. O diabo também apareceu nas suas formas horríveis, com um exército de espíritos infernais. Às vezes não havia nenhuma aparição, mas Padre Pio estava ferido, ele era torturado com barulhos ensurdecedores, cuspido etc. Padre Pio teve sucesso livrando-se destas agressões ao invocar o nome de Jesus.

As lutas entre Padre Pio e Satanás ficaram mais duras quando Padre Pio livrou as almas possuídas pelo Diabo. Mais de uma vez, falou ao Padre Tarcísio de Cervinara que, antes de ser exorcizado, o Diabo gritava: "Padre Pio você nos dá mais preocupação que São Michael" e também: "Padre Pio, não aliene as almas de nós e nós não o molestaremos".

Vejamos como o Padre Pio descreveu nas cartas que enviou aos seus directores espirituais, as agressões do Diabo.

Carta para Padre Agostino, de 18 de janeiro de 1912. -

"... O Barba Azul não quer ser derrotado." Ele chegou a mim assumindo todas as formas. Durante vários dias, vem visitar-me com seus espíritos infernais armados com bastões de ferros e pedras. O pior é que eles vêm com os seus próprios semblantes. Várias vezes eles me tiraram da cama e me arrastaram pelo quarto. Mas Jesus, Nossa Senhora, o Anjo da Guarda, São José e São Francisco estão freqüentemente comigo."

Carta para Padre Agostino 5 de novembro 1912

Querido Padre, esta é a segunda carta, graças a Deus, e segue o mesmo destino da anterior. Eu estou seguro que Padre Evangelista já o informou sobre a nova guerra que os apóstatas impuros estão fazendo contra mim. Meu Padre, eles não podem vencer minha constância. Eu lhe informo sobre as armadilhas que eles gostam de me induzir me privando de suas orientações. Eu encontro nas cartas meu único conforto; mas para glorificar Deus e confusão deles, eu os aguentarei. Eu não posso explicar como eles estão me pegando. Às vezes eu penso que vou morrer. Sábado pensei que eles realmente queriam me matar, eu não sabia a que santo pedir ajuda; Eu me dirigi a meu Anjo da Guarda suplicando ajuda e depois de esperar longo tempo, finalmente ele voou ao redor de mim e com sua voz angelical cantou hinos a Deus. Então uma dessas cenas habituais aconteceu; Eu ralhei severamente porque ele tinha me feito esperar tanto pela sua ajuda, apesar de que o tinha chamado urgentemente, e por castigo eu não quis olhar para sua face, eu queria que ele recebesse mais um castigo de mim e quis escapar, ele me localizou chorando e me levou, até que o vi, encarei fixamente e vi o que ele sentia.

Carta para Padre Agostino datada de 18 de novembro de 1912 -

"O inimigo não quer me deixar só, me bate continuamente. Ele tenta envenenar minha vida com as armadilhas infernais. Ele se perturba muito porque eu lhe conto estes fatos. Ele me sugere não lhe contar os fatos que acontecem entre ele e eu. Ele me pede que narre as visitas boas que recebo; na realidade ele diz que você gosta de só destas histórias. O pastor esteve informado da batalha que eu travo com estes demónios e com referência às cartas, ele me sugeriu ir até ele abrir a carta assim que tivesse chegado. E quando abri a carta junto do pastor, achamos a carta suja de tinta. Era a vingança do diabo! "__Eu não posso acreditar que você me tenha enviado a carta suja porque você sabe que eu não enxergo bem." No princípio nós não pudemos ler a carta, mas depois de sobrepor o Crucifixo à carta , tivemos sucesso na leitura, até mesmo não sendo capazes de ler letras pequenas.

Carta para Padre Agostino de 13 de fevereiro de 1913...

"Agora, vinte e dois dias passados desde que Jesus permitiu aos diabos descarregarem a raiva deles em mim, meu corpo, meu Padre, é todo marcado pelos golpes que recebi, até o presente, dos nossos inimigos. Várias vezes, tiraram minha camisa e me golpearam de forma brutal"...

Carta para Padre Benedetto de 18 de março de 1913...

"Os diabos não deixam de me golpear e me derrubam da cama. Eles removem minha camisa para me bateram. Mas agora eles já não me assustam mais. Jesus me ama, me levanta e me coloca na cama..."

Satanás foi além de todos os limites da provocação com Padre Pio; até lhe disse que era um penitente.

Este é o testemunho do Padre Pio:

"Um dia, enquanto eu estava ouvindo confissões, um homem veio para o confessionário onde eu estava. Ele era alto, esbelto, vestido com refinamento, era cortês e amável. Começou a confessar seus pecados, que eram de todo tipo: contra Deus, contra os homens e contra o moral. Todos os pecados eram aberrantes! Eu fiquei desorientado com todos os pecados que ele me contou, e respondi ' e lhe trago a Palavra de Deus, o exemplo da Igreja e o moral dos Santos", mas o penitente enigmático se opôs às minhas palavras justificando, com habilidade extrema e cortesia, todo o tipo de pecado". Ele desabafou todas as ações pecadoras e tentou me fazer entender normal, natural e humanamente compreensível todas as ações pecadoras. E isto não só para os pecados que eram horríveis contra Deus, Nossa Senhora e os Santos. Ele foi firme na argumentação dos pecados morais tão sujos e repugnantes. As respostas que me deu, com fineza qualificada e malícia, me surpreenderam. Eu me perguntei: Quem ele é? De que mundo ele vem? E eu tentei olhar bem para ele, ler algo na face dele. Ao mesmo tempo me concentrei em cada palavra dele para dar-lhe o juízo correto que merecia. Mas de repente através de uma luz interna vívida e brilhante eu reconheci claramente que era ele.Com tom definido e imperioso lhe falei: "_Diga, Viva Jesus para sempre, Viva Maria eternamente" Assim que pronunciei estes doces e poderosos nomes, o Satanás desapareceu imediatamente dentro um zigue-zague de fogo deixando um fedor insuportável."

Don Pierino Galeone estava presente ao mesmo episódio. Ele é um padre e um dos filhos espirituais do Padre Pio.

Dom Pierino conta:

"Um dia, Padre Pio estava no confessionário, coberto por duas cortinas. As cortinas do confessionário não estavam fechadas e eu tive oportunidade de ver o Padre Pio. Os homens, enquanto se preparavam, se posicionaram em uma fila única. Do lugar onde eu estava lia o Breviário e, às vezes, erguia o olhar para ver o Padre. Pela porta pequena da igreja, entrou um homem. Ele era bonito, com olhos pequenos e pretos, cabelo grisalho, com uma jaqueta escura e calças compridas. Eu não quis me distrair e continuei recitando o breviário, mas uma voz interna me falou: Pare e olhe! "Eu parei e olhei para Padre Pio. Aquele homem parou em frente do confessionário. E depois que o penitente anterior foi embora desapareceu imediatamente entre as cortinas. Estava em pé, de frente para o Padre Pio . Então eu não vi mais aquele homem de cabelo grisalho. Depois que alguns minutos o vi penetrando no chão. No confessionário, na cadeira onde Padre Pio estava sentado, vi Jesus em seu lugar. Ele era loiro, jovem e bonito e ele parecia fixo naquele homem que penetrou o chão. Então vi Padre Pio surgir novamente. Ele voltou a tomar seu assento, era semelhante a Jesus. Pude então ver claramente o Padre Pio. E imediatamente ouvi sua voz: Se apressem! Ninguém notou este acontecimento e todos permanecemos onde estávamos"
A MISSA DO PADRE PIO
Apresentamos esta entrevista feita ao padre Pio por uma das suas filhas espirituais :

Padre, o Sr. ama o Sacrifício da Missa?

Sim, porque Ela regenera o mundo.


Que glória dá a Deus a Missa?

Uma glória infinita.


Que devemos fazer durante a Missa?

Compadecer-nos e amar.



Padre, como devemos assistir à Santa Missa?

Como assistiram a Santíssima Virgem e as piedosas mulheres. Como assistiu S. João Evangelista ao Sacrifício Eucarístico e ao Sacrifício cruento da Cruz.



Padre, que benefícios recebemos ao assistir à Santa Missa?

Não se podem contar. Vê-lo-ás no céu. Quando assistires à Santa Missa, renova a tua fé e medita na Vítima que se imola por ti à Divina Justiça. Não te afastes do altar sem derramar lágrimas de dor e de amor a Jesus, Crucificado por tua salvação. A Virgem Dolorosa te acompanhará e será tua doce inspiração.



Padre, que é sua Missa?

Uma união sagrada com a Paixão de Jesus. Minha responsabilidade é única no mundo. (Dizia-o chorando.)



Que devo descobrir na sua Santa Missa?

Todo o Calvário.



Padre, diga-me tudo o que o senhor sofre durante a Santa Missa.

Sofro tudo o que Jesus sofreu na sua Paixão, embora sem proporção, só enquanto pode fazê-lo uma criatura humana. E isto, apesar de cada uma de minhas faltas e só por sua bondade.



Padre, durante o Sacrifício divino o senhor carrega os nossos pecados?

Não posso deixar de fazê-lo, já que é uma parte do Santo Sacrifício.



O senhor considera a si mesmo um pecador?

Não o sei, mas temo que assim seja.



Eu já vi o senhor tremer ao subir aos degraus do altar. Por quê? Pelo que tem de sofrer?

Não pelo que tenho de sofrer, mas pelo que tenho de oferecer.



Em que momento da Missa o senhor sofre mais?

Na Consagração e na Comunhão.



Padre, esta manhã na Missa, ao ler a história de Esaú, que vendeu os direitos de sua primogenitura, seus olhos se encheram de lágrimas.

Parece-te pouco desprezar o dom de Deus!?



Por que, ao ler o Evangelho, o senhor chorou quando leu estas palavras: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue...”

Chora comigo de ternura!



Padre, por que o senhor chora quase sempre que lê o Evangelho na Missa?

A nós nos parece que não tem importância que um Deus fale às suas criaturas e elas O contradigam e continuamente O ofendam com sua ingratidão e incredulidade.



Sua Missa, Padre, é um sacrifício cruento?

Herege!



Perdão, Padre, quis dizer que na Missa o Sacrifício de Jesus não é cruento, mas a sua participação em toda a Paixão o é. Engano-me?

Não, nisso não te enganas. Creio que tens toda a razão.



Quem lhe limpa o sangue durante a Missa?

Ninguém.



Padre, por que o senhor chora no Ofertório?

Queres saber o segredo? Pois bem: porque é o momento em que a alma se separa das coisas profanas.



Durante sua Missa, Padre, o povo faz um pouco de barulho...

Se estivesses no Calvário, não ouvirias gritos, blasfêmias, ruídos, e ameaças? Havia um alvoroço enorme.



Não o distraem os ruídos?

Em nada.



Padre, por que sofre tanto na Consagração?

Não sejas maldoso... (Não quero que me perguntes isso...)



Padre, diga-me: por que sofre tanto na Consagração?

Porque nesse momento se produz realmente uma nova e admirável destruição e criação.



Padre, por que chora no altar, e que significam as palavras que pronuncia na Elevação? Pergunto por curiosidade, mas também porque quero repeti-las com o senhor.

Os segredos do Rei Supremo não podem revelar-se nem profanar-se. Pergunta-mes por que choro, mas eu não queria derramar essas pobres lagrimazinhas, mas torrentes de lágrimas. Não meditas neste grandioso mistério?



Padre, o senhor sofre, durante a Missa, a amargura do fel?

Sim, muito freqüentemente...



Padre, como pode estar-se de pé no Altar?

Como estava Jesus na Cruz.



No altar, o senhor está pregado na Cruz, como Jesus no Calvário?

E ainda me perguntas?



Como se acha o senhor?

Como Jesus no Calvário.



Padre, os carrascos deitaram a Cruz no chão para pregar os cravos em Jesus?

Evidentemente.



Ao senhor também lhos pregam?

E de que maneira!



Também deitam a Cruz para o senhor?

Sim, mas não devemos ter medo.



Padre, durante a Missa o senhor pronuncia as Sete Palavras que Jesus disse na Cruz?

Sim, indignamente, mas também as pronuncio.

E a quem diz: “Mulher, eis aí teu filho”?

Digo para Ela: “Eis aqui os filhos de Teu Filho”.



O senhor sofre a sede e o abandono de Jesus?

Sim.



Em que momento?

Depois da Consagração.



Até que momento?

Costuma ser até a Comunhão.



O senhor diz que tem vergonha de dizer: “Procurei quem me consolasse e não achei”. Por quê?

Porque nossos sofrimentos de verdadeiros culpados não são nada em comparação com os de Jesus.



Diante de quem sente vergonha?

Diante de Deus e da minha consciência.



Os Anjos do Senhor o reconfortam no Altar em que o senhor se imola?

Pois... não o sinto.



Se não lhe vem o consolo até à alma durante o Santo Sacrifício, e o senhor sofre, como Jesus, o abandono total, nossa presença não serve para nada.

A utilidade é para vós. Por acaso foi inútil a presença da Virgem Dolorosa, de São João e das piedosas mulheres aos pés de Jesus agonizante?



Que é a Sagrada Comunhão?

É toda uma misericórdia interior e exterior, todo um abraço. Pede a Jesus que se deixe sentir sensivelmente.



Quando Jesus vem, visita somente a alma?

O ser inteiro.



Que faz Jesus na Comunhão?

Deleita-se na sua criatura.



Quando se une a Jesus na Santa Comunhão, que quer peçamos a Deus pelo senhor?

Que eu seja outro Jesus, todo Jesus e sempre Jesus.



O senhor sofre também na Comunhão?

É o ponto culminante.



Depois da Comunhão, continuam seus sofrimentos?

Sim, mas não sofrimentos de amor.



A quem se dirigiu o último olhar de Jesus agonizante?

À sua Mãe.



E o senhor para quem olha?

Para meus irmãos de exílio.



O senhor morre na Santa Missa?

Misticamente, na Sagrada Comunhão.



É por excesso de amor ou de dor?

Por ambas as coisas, porém mais por amor.



Se o senhor morre na Comunhão, continua a ficar no Altar? Por quê?

Jesus morto permanecia pendente da Cruz no Calvário.



Padre, o senhor disse que a vítima morre na Comunhão. Colocam o senhor nos braços de Nossa Senhora?

Nos de São Francisco.



Padre, Jesus desprega os braços da Cruz para descansar no Senhor?

Sou eu quem descansa n’Ele!



Quanto ama a Jesus?

Meu desejo é infinito, mas a verdade é que, infelizmente, tenho de dizer nada e me causa pena.



Padre, por que o senhor chora ao pronunciar a última palavra do Evangelho de São João: “E vimos sua glória como do Unigênito Pai, cheio de graça e de verdade”?

Parece-te pouco? Se os Apóstolos, com seus olhos de carne, viram essa glória, como será a que veremos no Filho de Deus, em Jesus, quando se manifestar no céu?



Que união teremos então com Jesus?

A Eucaristia nos dá uma idéia.



A Santíssima Virgem assiste à sua Missa?

Julgas que a Mãe não se interessa por seu Filho?



E os Anjos?

Em multidões.



Padre, quem está mais perto do Altar?

Todo o Paraíso.



O senhor gostaria de celebrar mais de uma Missa por dia?

Se eu pudesse, não quereria descer do Altar.



Disseram-me que traz com o senhor o seu próprio Altar...

Sim, porque se realizam estas palavras do Apóstolo: “Eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus”. “Estou cravado com Cristo na Cruz.” “Castigo o meu corpo, e o reduzo à escravidão...”



Nesse caso, não me engano quando digo que estou vendo Jesus Crucificado!

(Nenhuma resposta)



Padre, o senhor se lembra de mim na Santa Missa?

Durante toda a Missa, desde o princípio até o fim, lembro-me de ti.



A Missa do Padre Pio, em seus primeiros anos, durava mais de duas horas. Sempre foi um êxtase de amor e de dor. Seu rosto estava inteiramente concentrado em Deus e cheio de lágrimas. Um dia, ao confessar-me, perguntei-lhe sobre este grande mistério:



Padre, quero fazer-lhe uma pergunta.

Dize-me, filho.



Padre, queria perguntar-lhe que é a Missa?

Por que me perguntas isto?



Para ouvi-la melhor, Padre.

Filho, posso dizer-te que é a minha Missa.



Pois é isso o que quero saber, Padre.

Meu filho, estamos na Cruz, e a Missa é uma contínua agonia
Hoje a Igreja celebra a Festa de S.Pio de Pietralcina que faleceu a 23 de Setembro de 1968; esis alguma notas sobre a sua vida:

Padre Pio e o Rosário

“quisera que os dias tivessem 48 horas para poder redobrar os Rosários”

Desde muito pequeno Padre Pio experimenta um amor muito grande pela Santíssima Virgem Maria, sua “mammusia”, como carinhosamente a chamava, que significa no dialeto “mamãezinha”. Sua primeira peregrinação sendo um menino de 8 anos foi à virgem de Pompéia, a Virgem do Rosário, próximo a Nápoles.

Em sua casa de Pietrelcina, como em todas as famílias italianas da época, o rosário era a oração familiar. Se encontravam em volta da fogueira todas as noites antes de irem dormir rezando o Rosário. Porém quando a Virgem apareceu em Fátima como a Virgem do Rosário e recomendou o Rosário como oração potente para obter todo bem e vencer todo mal, Padre Pio fez do Rosário sua oração incessante e incansável dia após dia. Dizia Padre Pio: “Se a Virgem Santa tem sempre calorosamente recomendado onde quer que venha aparecido, não nos parece que deva ser por um motivo especial?”

Quanto mais crescia sua “freguesia” mundial, como a chamou o Papa Paulo Vi, de seus filhos espirituais, mais ele aumentava as coroas do Rosário a recitar. Era seu segredo, com esta cadeia que o unia ao Coração de Jesus através do Coração Imaculado de Maria, ele afastava os males e obtinha as graças para seus filhos. Chegou a recitar, no curso de um dia um número incalculável de rosários. Sua oração assídua o fez um “Homem feito Rosário” ou como poderia ser chamado o “Santo do Rosário”.

Uma vez o ouviram dizer: “quisera que os dias tivessem 48 horas para poder redobrar os Rosários”. Todos os dons e prodígios para as almas os obtinha através do Santo Rosário.

Um dia lhe pediram seus filhos espirituais que lhes deixasse sua herança espiritual. Padre Pio respondeu imediatamente sem pensar sequer: “O Rosário”. E pouco antes da morte disse a seu amigo e irmão Frei Modestino: “Amem a virgem e façam-na amada. Recitem sempre o Rosário!”. Padre Pio viveu sua vida do altar ao confessionário. Sempre com o rosário na mão, unido ao Coração Imaculado de Maria, quem o formou imagem encarnada da misericórdia do Coração Eucarístico de Jesus para com o século 20. Este século de tantos pecados e desafios aos direitos de Deus como nosso criador e de ataques horrendos à dignidade do homem.

Uma história sobre seu amor ao Rosário

Nos narra padre Stefano Manelli, um de seus filhos espirituais e grande conhecedor de sua espiritualidade, uma história de quando ainda era um seminarista capuchinho:

“Padre Pio orava muito ainda mesmo fora das horas de oração comunitária. Encontrá-lo no coral (lugar onde rezam os religiosos nas igrejas), ou em seu quarto fazendo oração, era uma coisa normal. Lhe agradava muito desde então a oração do Santo Rosário. Em seus propósitos espirituais anotou de rezar cada dia quinze rosários.

Chegou a comprometer-se em uma competição (maravilhoso e santo esporte) com um companheiro, Frei Anastásio, para ver quem rezava um maior número de rosários. Uma noite sentiu um ruído e alguém que se movia no quarto próximo do seu. Se levantou e pensou que os ruídos fossem causados por frei Anastásio que estava todavia desperto a fazer rosários, sempre em competição (santa competição) com este irmão capuchinho.

Um certo momento, da janela, chamou a frei Anastásio e qual foi sua surpresa quando da janela se debruçou um enorme cão negro com os olhos de fogo, e não seu companheiro. Frei Pio caiu como uma pedra, e o horrível cão, com um salto formidável, desapareceu. Frei Pio apenas pôde chegar a cama quase desmaiado. No dia seguinte soube que seu irmão Frei Anastásio foi trocado de quarto na noite anterior.”

Sua batalha contra Satanás, o mundo e a carne foi libertado de modo eficaz através da oração do Santo Rosário.
Padre Pio de Pietralcina celebrando a Missa Tridentina
Padre Stefanno Manelli, fundador dos Franciscanos da Imaculada escreve:

JESUS EUCARÍSTICO É DEUS NO MEIO DE NÓS

Quando S. João Maria Vianney chegou à pequena e pouco conhecida aldeia de Ars, alguém lhe disse, já sem nenhuma esperança:

"Aqui não há mais nada que fazer!"

- "Então, é sinal de que está tudo por fazer", respondeu o Santo. E, em seguida, começou a fazer. E que é que foi fazendo?...

Levantava-se às duas da madrugada, punha-se em oração junto ao altar, dentro da igreja escura. Recitava o Ofício Divino,

fazia a meditação e se preparava para a santa missa.

Depois da santa missa, dava ações de graças e continuava em oração até o meio-dia: sempre de joelhos no piso nu da igreja, sem se apoiar em nada, com o terço nas mãos e o olhar fixo no sacrário.

E assim continuou por algum tempo.

Mas, depois... ele teve que começar a mudar os horários, chegando ao ponto de precisar modificar completamente o seu programa diário.

Jesus Eucarístico e a Santíssima Virgem iam atraindo pouco a pouco as almas daquela pobre paróquia, até que a igreja foi considerada pequena para conter as multidões, e o confessionário do Santo foi pressionado por filas intermináveis de penitentes.

O santo Cura viu-se, dentro em breve, obrigado a ouvir confissões durante dez, depois quinze, até dezoito horas por dia.

Como se teria dado aquela transformação?

Uma igreja pobre, um altar sem atrativos, um sacrário abandonado, um velho confessionário, um sacerdote desprovido de meios e pouco dotado: como é que se poderia operar naquela desconhecida aldeola uma transformação tão admirável?


Em S. Giovanni Rotondo

As mesmas perguntas podemos fazer hoje a respeito de uma aldeia do Gargano, S. Giovanni Rotondo, que até poucos anos atrás estava como que perdida e desconhecida por entre as escarpas rochosas do promontório. Hoje S. Giovanni Rotondo é um centro de vida espiritual e cultural cuja fama ultrapassa os limites da nação.

Pois aí também foi um pobre frade enfermo, num pequeno convento ameaçando ruir, com uma pequena igreja deserta, com um altar e um sacrário que sempre tiveram por companheiro apenas o pobre frade, que ia usando seu terço e suas mãos na reza incansável de rosários e mais rosários...

Mas, como? A que é que se deve a admirável transformação acontecida, tanto em Ars como em S. Giovanni Rotondo, para onde centenas de milhares, talvez milhões de pessoas acorriam, de todas as partes do mundo?

Só mesmo Deus é que podia operar aquelas transformações, servindo-se, segundo os seus caminhos, das "coisas inconsistentes para humilhar as consistentes" (ICor 1,28).

Tudo a ele se deve, ao poder divino e infinito da Eucaristia, à força todo-poderosa de atração, que se irradia do sacrário, e que se irradiou dos sacrários de Ars e de S. Giovanni Rotondo, atingindo as almas através do ministério daqueles dois sacerdotes, verdadeiros "ministros do tabernáculo" (Hb 13,10) e "dispensadores dos mistérios divinos" (ICor 4,1).


O Emanuel

Mas, afinal, que é a Eucaristia? É Deus no meio de nós.

É o Senhor Jesus presente nos sacrários de nossas igrejas, com o seu corpo, sangue, alma e divindade. E Jesus coberto com o véu das aparências do pão, mas realmente, fisicamente presente à nossa disposição. Jesus Eucarístico é o verdadeiro "Emanuel", isto é, "Deus conosco" (Mt 1,23).

'A fé da Igreja - ensina-nos Pio XII - é esta: que um só e o mesmo é o Verbo de Deus e o Filho de Maria, que sofreu na cruz, que está presente na Eucaristia, e que reina no Céu".

Jesus eucarístico está entre nós como um irmão, como um amigo, como esposo de nossas almas. Ele quer vir a nós para ser o nosso alimento de vida eterna, o nosso amor, o nosso sustento; ele quer fazer de nós um só corpo com ele para ser o nosso redentor e salvador, que nos leva ao Reino dos Céus para mergulhar-nos na eternidade do amor.

Com a Eucaristia, Deus, na verdade, nos deu tudo.

S. Agostinho exclama: "Sendo Deus onipotente, não pôde dar mais; sendo sapientíssimo, não soube dar mais; e, sendo riquíssimo, não teve mais o que dar..."

S. Pedro Julião Eymard, quando chegou a Paris, foi morar numa casa muito pobre na qual faltavam muitas coisas necessárias.

Mas, se alguém lamentava isso e se condoía por ele, o Santo lhe respondia: "Temos o Santíssimo Sacramento, e aí está tudo o de que preciso". E, quando as pessoas o procuravam para conseguirem graças, auxílios ou conforto, o Santo lhes dizia:

"Achareis tudo isso na Eucaristia: a palavra de conforto, a ciência, os milagres... Sim, até os milagres!..."

Que quereis ainda mais?

Vamos, pois, à Eucaristia. Aproximemo-nos de Jesus, que quer fazer-se nosso, para fazer-nos seus, divinizando-nos:

"Jesus, alimento das almas fortes - exclamava Santa Gema Galgani - fortalecei-me, purificai-me, divinizai-me".

Aproximemo-nos da Eucaristia com um coração puro e ardente. Como os santos. Nunca será demais o nosso cuidado em procurar conhecer e tornar conhecido este Mistério inefável.

A meditação, o estudo, a reflexão sobre a Eucaristia hão de encontrar um espaço de tempo no decorrer de nossas horas. E esse será o tempo mais abençoado do nosso dia. Ele nos fará bem à alma e ao corpo.

Na vida de S. Pio X se lê que um dia, quando ele era pároco de Salzano, foi visitar um clérigo que estava doente.

Ora, naquela mesma hora em que foi visitá-lo, lá estava chegando também o médico, que perguntou ao enfermo como estava.

O jovem clérigo respondeu-lhe que naquele dia estava sentindo-se melhor, porque tinha ensinado um pouco de catecismo aos irmãozinhos, falando-lhes sobre a Eucaristia.

A esta resposta, o médico exclamou em tom de zombaria:

"Ora, esta é boa! Nas clínicas em que estudei nunca ouvi dizer que a doutrinazinha cristã pudesse produzir tais efeitos!"

Contra esta investida tão amarga interveio imediatamente o pároco em defesa do clérigo, e disse ao médico: "Ah! Sim.

Os efeitos da doutrina que vós aprendestes nós os estamos vendo muito bem, doutor, e até um míope os poderia ver, pois deles

o cemitério está cheio... Ao passo que a doutrina cristã preenche um lugar que só alguém privado do cérebro não poderá ver: o Paraíso!"

A Eucaristia é o celeste "fermento" (Mt 13,33) capaz de levedar, na natureza humana de cada homem, todos os bens espirituais e temporais... É um bem de tal modo grande, que outro maior não se pode desejar... De fato, que se poderia desejar ainda, quando temos connosco Jesus vivo e verdadeiro, Deus feito homem, o Verbo que se fez carne e sangue para a nossa salvação e felicidade?

Bem respondeu, já no leito de morte, S. Pedro Julião Eymard a um religioso que lhe pedia um último pensamento como lembrança:

"Nada mais tenho a dizer-vos. Vós tendes a Eucaristia. Que quereis ainda mais?"

E é mesmo assim.

EUCARISTIA
festa do amor
Extractos da homilia do Santo Padre Bento XVI na solenidade da Exaltação da Santa Cruz em Lourdes a 14 de Setembro de 2008

“Como é admirável possuir a Cruz! Quem a possui, possui um tesouro!” (S. André de Creta ). Neste dia em que a liturgia da Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz, o Evangelho que acabastes de ouvir lembra-nos o significado deste grande mistério: Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que os homens sejam salvos . O Filho de Deus tornou-se vulnerável, assumindo a condição de servo, obedecendo até à morte e morte de cruz . É pela sua Cruz que estamos salvos. O instrumento de suplício que, na Sexta-Feira Santa, tinha manifestado o juízo de Deus sobre o mundo, tornou-se fonte de vida, de perdão, de misericórdia, sinal de reconciliação e de paz. “Para ser curados do pecado, olhamos para Cristo crucificado!” dizia Santo Agostinho . Levantando os olhos para o Crucificado, adoramos Aquele que veio para assumir sobre si o pecado do mundo e dar-nos a vida eterna. E a Igreja convida-nos a erguer com ousadia esta Cruz gloriosa, a fim de que o mundo possa ver até onde chegou o amor do Crucificado pelos homens, por todos os homens. A mesma convida-nos a dar graças a Deus, porque de uma árvore que trouxera a morte surgiu novamente a vida. É sobre este madeiro que Jesus nos revela a sua soberana majestade, nos revela que Ele é exaltado na glória. Sim, “Vinde, adoremo-Lo!”. No meio de nós, encontra-se Aquele que nos amou até ao ponto de dar a sua vida por nós, Aquele que convida todo o ser humano a aproximar-se d’Ele com confiança.
É este grande mistério que Maria nos confia esta manhã, convidando-nos a voltarmo-nos para o seu Filho. De facto, é significativo que, na primeira aparição a Bernadete, Maria inicie o seu encontro com o sinal da Cruz. Mais do que um simples sinal, é uma iniciação aos mistérios da fé que Bernadete recebe de Maria. O sinal da Cruz é de alguma forma a síntese da nossa fé, porque nos diz quanto Deus nos amou; diz-nos que, no mundo, há um amor mais forte do que a morte, mais forte do que as nossas fraquezas e os nosso pecados. A força do amor é maior do que o mal que nos ameaça. É este mistério da universalidade do amor de Deus pelos homens que Maria veio revelar aqui, em Lourdes. Ela convida todos os homens de boa vontade, todos aqueles que sofrem no coração ou no corpo, a levantar os olhos para a Cruz de Jesus a fim de encontrar nela a fonte da vida, a fonte da salvação.

A Igreja recebeu a missão de mostrar a todos este rosto de um Deus que ama, manifestado em Jesus Cristo. Saberemos nós entender que, no Crucificado do Gólgota, a nossa dignidade de filhos de Deus, ofuscada pelo pecado, nos foi restituída? Voltemos o nosso olhar para Cristo. É Ele que nos fará livres para amar como Ele nos ama e construir um mundo reconciliado. Pois, nesta Cruz, Jesus tomou sobre si o peso de todos os sofrimentos e injustiças da nossa humanidade. Carregou as humilhações e as discriminações, as torturas padecidas, pelo amor de Cristo, em tantas regiões do mundo por nossos irmãos e irmãs sem número. Confiamo-los a Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, presente ao pé da Cruz.
Para acolhermos em nossas vidas esta Cruz gloriosa, a celebração do Jubileu das aparições de Nossa Senhora de Lourdes faz-nos entrar num caminho de fé e conversão. Hoje, Maria vem ao nosso encontro para nos indicar os caminhos de uma renovação da vida das nossas comunidades e de cada um de nós. Acolhendo o seu Filho, que Ela nos apresenta, mergulhamos numa fonte viva onde a fé pode alcançar um novo vigor, onde a Igreja pode fortalecer para proclamar, com audácia sempre maior, o mistério de Cristo. Jesus, nascido de Maria, é Filho de Deus, único salvador de todos os homens, que vive e age na sua Igreja e no mundo. A Igreja é enviada a todos os lugares do mundo para proclamar esta única mensagem e convidar os homens a acolhê-La mediante uma autêntica conversão do coração. Esta missão, confiada por Jesus aos seus discípulos recebe aqui, por ocasião deste Jubileu, um novo sopro. Que no rasto dos grandes evangelizadores do vosso País, o espírito missionário, que animou tantos homens e mulheres de França ao longo dos séculos, continue a ser a vossa glória e o vosso compromisso.

No seu caminho espiritual, também os cristãos são chamados a fazer frutificar a graça do seu Baptismo, a alimentar-se da Eucaristia, a haurir da oração a força para dar o testemunho e ser solidários com todos os seus irmãos em humanidade .Trata-se, por conseguinte, de uma verdadeira catequese que nos é proposta sob o olhar de Maria. Deixemos que a Virgem nos ensine também a nós e nos guie pelo caminho que leva ao Reino do seu Filho!
Maria é esta mulher da nossa terra que se entregou inteiramente a Deus e d’Ele recebeu o privilégio de dar a vida humana ao seu eterno Filho. “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” . Ela é a beleza transfigurada, a imagem da nova humanidade. Apresentando-se assim numa dependência total de Deus, Maria exprime na verdade uma atitude de plena liberdade, baseada sobre o pleno reconhecimento da sua verdadeira dignidade. Este privilégio diz respeito também a nós, porque nos revela nossa dignidade de homens e mulheres, marcados sem dúvida pelo pecado, mas salvos na esperança, uma esperança que nos permite enfrentar a nossa vida quotidiana. É o caminho que Maria deixa aberto também ao homem. Entregar-se completamente a Deus é encontrar o caminho da verdadeira liberdade. Porque voltando-se para Deus, o homem torna-se sendo ele mesmo. Encontra de novo a sua vocação originária de pessoa criada à sua imagem e semelhança.

Queridos irmãos e irmãs, a vocação primeira do santuário de Lourdes é ser um lugar de encontro com Deus na oração e um lugar de serviço aos irmãos, sobretudo através do acolhimento dos enfermos, dos pobres e de todas as pessoas que sofrem. Neste lugar, Maria vem ao nosso encontro como mãe, sempre disponível às necessidades dos seus filhos. Através da luz que emana do seu rosto, transparece a misericórdia de Deus. Deixemo-nos envolver pelo seu olhar: este diz-nos que somos todos amados por Deus, que jamais nos abandona! Maria vem recordar-nos que a oração, intensa e humilde, confidente e perseverante, deve ter um lugar central na nossa vida cristã. A oração é indispensável para acolher a força de Cristo. "Quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a acção" . Deixando-se absorver pelas actividades corre-se o risco de fazer perder à oração a sua especificidade cristã e a sua verdadeira eficácia. A oração do Rosário, tão querida a Bernadete e aos peregrinos de Lourdes, concentra em si a profundidade da mensagem evangélica. Introduz-nos na contemplação do rosto de Cristo. Nesta oração dos humildes, podemos alcançar abundantes graças.
A presença dos jovens em Lourdes é também uma realidade importante. Caros amigos, aqui presentes esta manhã ao redor da Cruz da Jornada Mundial da Juventude, quando Maria recebeu a visita do Anjo, era uma jovem mulher de Nazaré que fazia a vida simples e corajosa das mulheres da sua aldeia. E se Deus pousou de modo particular o seu olhar sobre ela, confiando nela, Maria quer dizer também a vós que nenhum é indiferente para Deus. Ele pousa o seu olhar amoroso sobre cada um de vós e chama-vos a uma vida feliz e cheia de sentido. Não vos deixeis desanimar diante das dificuldades! Maria turbou-se ao ouvir o anúncio do Anjo vindo para Lhe dizer que seria a Mãe do Salvador. Ela sentia como era débil diante da omnipotência de Deus. No entanto, disse "sim" sem hesitar. Graças ao seu "sim", a salvação entrou no mundo, mudando deste modo a história da humanidade. Por vossa vez, caros jovens, não tenhais medo de dizer "sim" à chamada do Senhor, quando Ele vos convida a segui-Lo. Respondei generosamente ao Senhor! Só Ele pode satisfazer as aspirações mais profundas do vosso coração. Muitos são os que vindes a Lourdes para um serviço dedicado e generoso junto dos doentes ou de outros peregrinos, seguindo assim nos passos de Cristo servidor. O serviço prestado aos irmãos e irmãs abre o coração, tornando-vos disponíveis. No silêncio da oração, seja Maria a vossa confidente, ela que soube falar a Bernadete respeitando-a e confiando nela. Maria ajude os que são chamados ao matrimónio a descobrir a beleza de um amor verdadeiro e profundo, vivido como dom recíproco e fiel! Aos que dentre vós Jesus chama a segui-Lo na vocação sacerdotal ou religiosa, gostaria de reiterar toda a felicidade que há na doação total da própria vida ao serviço de Deus e dos homens. Sejam as famílias e as comunidades cristãs lugares onde possam nascer e amadurecer sólidas vocações ao serviço da Igreja e do mundo!
A mensagem de Maria é uma mensagem de esperança para todos os homens e mulheres do nosso tempo, independentemente do seu País. Gosto de invocar Maria com Estrela da esperança . Nas estradas das nossas vidas, por vezes tão sombrias, ela é uma luz de esperança que nos ilumina e orienta no nosso caminho. Por meio do seu "sim" e com o dom generoso de si própria, ela abriu a Deus as portas do nosso mundo e da nossa história. E convida-nos a viver como ela numa esperança invencível, recusando escutar os que pretendem que nós somos prisioneiros do destino. Ela acompanha-nos com a sua presença maternal no meio dos acontecimentos da vida das pessoas, das famílias e das nações. Felizes os homens e as mulheres que depositam a sua confiança n'Aquele que, na hora de oferecer a sua vida pela nossa salvação, nos deu sua Mãe para que fosse a nossa Mãe!

Queridos irmãos e irmãs, nesta terra de França, a Mãe do Senhor é venerada em numerosos santuários, que manifestam assim a fé transmitida de geração em geração. Celebrada na sua Assunção, ela é a Padroeira amada do vosso País. Seja sempre honrada com fervor em cada uma das vossas famílias, nas vossas comunidades religiosas e nas paróquias! Queira Maria velar sobre todos os habitantes do vosso belo País e sobre os numerosos peregrinos vindos de outros Países para celebrar este Jubileu! Seja para todos a Mãe que envolve carinhosamente os seus filhos tanto nas alegrias como nas provações! Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, ensina-nos a crer, esperar e a amar contigo. Indica-nos o caminho para o Reino do teu Filho Jesus! Estrela do mar, brilha sobre nós e guia-nos no nosso caminho!

domingo, 21 de setembro de 2008

Entrevista ao Cardeal Castrillón Hoyos

-Eminência, o que é a Santa Liturgia?

Respondo assim:a Liturgia é a presença viva de Deus, tal como disseram também os Santos Padres da Igreja, é a busca do sagrado. Uma Liturgia que não coloca a Deus no centro, não é católica. Gostaria de precisar para sermos claros que, na Liturgia, o sacerdote nunca deve ser protagonista, pôr-se em evidência. Gostaria de citar, por exemplo,o que sucedeu em Lourdes durante a recente viajem do Papa.

-Que aconteceu?

Um sacerdote considerou oportuno, segundo o seu gosto mudar as palavras da Ave Maria. Dá-se conta? Pretende-se mudar uma oração nascida da fé por manias de protagonismo.

-Eminencia, de que é que sofre hoje a Liturgia?

Creio que diminuiu,ao menos em parte, o sentido do sagrado. o sentido místico e o valor da Cruz. Não compreendo a certos celebrantes que se sentem grandes fazendo-se senhores e donos da Missa, que é o símbolo mais grande do amor de Deus pelo homem.


-Porque é que em nome de uma estranha ideia de criatividade litúrgica, ocorrem tantos abusos?

Quando o celebrante se orgulhece, inventando ou criando coisas, faz desaparecer a Cristo da sua mente e coração. Cancela-O. Recorde-se que Cristo está sempre no primeiro lugar. Às vezes , nas Missas, falta o sentido de Deus, o Verbo Incarnado que, na Liturgia da Igreja, encontra a sua glória. Uma pessoa humilde e simples chega à Igreja e ajoelha-se . Hoje ajoelhar-se causa estranheza, parece estar fora do tempo e do lugar .

-O que pode suceder ao Rito Romano antigo?

Que é belo. Que o latim deve ser valorizado nas escolas e nos seminários. Mas no centro está a Cruz e Cristo. Pensa que Mozart escreveu certas belezas olhando o mar? Não. Tinha a Cristo e a um pedaço de pão que na sagrada Eucaristia o inspiravam .

- Que pensa da Comunhão na mão?

A Liturgia baseia-se também na Tradição .É necessário voltar a valorizar o silêncio, a genuflexão, e compreender e fazer compreender também às crianças que não é belo tomar na mão o Corpo de Cristo.Devemos respeitá-Lo, reverenciá-Lo, com respeito, de joelhos, e sem tocá-Lo .
Diante da pergunta que um jornalista fez ao Santo Padre Bento XVI na sua recente visita a França, de se é um retrocesso para a Igreja a publicação do motu proprio Summorum Pontificum sobre o rito extraordinário em Latim na missa (7 de julho de 2007), o Papa explicou que «é um medo infundado, pois este ‘motu proprio’ é simplesmente um ato de tolerância, com um objetivo pastoral, para pessoas que foram formadas nesta liturgia, que a amam, que a conhecem e querem viver com esta liturgia».

«É um pequeno grupo, pois supõe uma formação em latim, uma formação em certa cultura. Mas me parece uma exigência normal da fé e da pastoral para um bispo de nossa Igreja ter amor e tolerância por estas pessoas e permitir-lhes viver com esta liturgia», reconheceu o Papa.

«Não há oposição alguma entre a liturgia renovada pelo Concílio Vaticano II e esta liturgia. Cada dia, os padres conciliares celebraram a missa segundo o rito antigo e, ao mesmo tempo, conceberam um desenvolvimento natural para a liturgia em todo este século, pois a liturgia é uma realidade viva, que se desenvolve e que conserva em seu desenvolvimento sua identidade.»

«Portanto, há certamente acentos diferentes, mas uma identidade fundamental que exclui uma contradição, uma oposição entre a liturgia renovada e a liturgia precedente. Creio que existe uma possibilidade de enriquecimento pelas duas partes.»

Extracto do discurso do Santo Padre Bento XVI aos bispos franceses reunidos em Lourdes por ocasião da sua peregrinação àquele Santuário a 13 -15 Setembro de 2008

"O culto litúrgico é a expressão suprema da vida sacerdotal e episcopal, como também do ensino catequético.Queridos irmãos, o vosso ofício de santificar os fiéis é essencial para o crescimento da Igreja. Senti-me impulsionado a precisar no "Motu proprio" Summorum Pontificum as condições para exercer esta responsabilidade pelo que respeita à possibilidade de utilizar tanto o missal do Beato João XXIII(1962) como o do Papa Paulo VI(1970).Já se deixam ver os frutos destas novas disposições, e espero a necessária calma dos espíritos que, graças a Deus, está acontecendo.
Tenho em conta as dificuldades que encontrais, mas não tenho a menor dúvida de que podeis chegar, num tempo razoável,a soluções satisfatórias para todos,para que a túnica de Cristo não se rasgue ainda mais.
Ninguém está a mais na Igreja.Todos, sem excepção, hão-de sentir-se nela "como em sua casa", e nunca desprezados.Deus, que ama todos os homens e não quer que nenhum se perca, confia-nos esta missão fazendo-nos Pastores da sua grei.Só nos resta dar-lhe graças pela honra e pela confiança que Ele nos concede.Portanto esforcemo-nos por sermos sempre servidores da unidade".

Na linha de obediência ao Santo Padre bento XVI , no que diz respeito ao Motu Próprio, temos o nosso blog. http://missatridentinaemportugal.blogspot com que promove e divulga tudo o que diz respeito ao mesmo. Pedimos-vos para adicioná-lo ao vosso blog e vos convidamos a visitá-lo, agradecemos, em nome do Santo Padre, tudo o que possa ser feito para incrementar o Motu proprio.

Teremos muito prazer em publicar no nosso blog os lugares onde se celebra a Santa Missa no modo extraordinário , liberalizado pelo Santo Padre com o seu Motu Proprio. As informações podem chegar-nos através do nosso emai: missatridentina.pt@hotmail.com
Papa Bento XVI pôs em conjunto, uma compilação de observações como pertence à liturgia sacra, durante a sua recente visita apostólica à França.
Nas três missas celebradas durante a sua viagem a Paris e Lourdes, Bento XVI seguiu o ritual pós-conciliar. Mas intencionalmente enriquecido com elementos característicos do antigo rito: a cruz no centro do altar, a comunhão dada aos fiéis sobre a língua, enquanto ajoelhados, a sacralidade do todo.

O recíproco "enriquecimento" entre os dois ritos é o principal objectivo que impeliu Bento XVI para promulgar, em 2007, o Motu Próprio "Summorum Pontificum", que liberalizou o uso do antigo rito da missa, segundo o missal romano de 1962 .

Os adversários do Motu Próprio sustentam, em vez disso, que a utilização do antigo rito não enriqueceu, mas sim cancelou as realizações do Vaticano II como um todo. . Os bispos franceses foram entre os mais críticos em relação à iniciativa do papa, antes e depois da promulgação do Motu Próprio.

No domingo, 14 de setembro encontrando os bispos de França, em Lourdes, o Papa Bento XVI, não deixará de os exortar a acolher bem a todos, incluindo os próprios fiéis que se sentem mais "em casa" com o antigo ritual.

O papa havia antecipado estas idéias sobre os dois ritos da missa, em resposta aos jornalistas durante o seu vôo para a França, na sexta-feira, 12 de setembro.

Mas Bento XVI disse muito mais sobre o assunto durante os quatro dias de sua viagem a Paris e Lourdes.

Em sua palestra em 12 de setembro, no Colégio dos Bernardins, ele explica o surgimento do grande música ocidental, nos mosteiros da Idade Média, em termos que exigem reflexão sobre a diminuição da qualidade da música litúrgica de hoje, e sobre a necessidade de revitalizar em linha com o seu significado original.

Na homilia para as vésperas na catedral de Notre-Dame, ele apelou para uma "beleza" nas liturgias terrenas que as irá aproximar das liturgias do céu. E ele exortou sacerdotes a ser fiéis à oração diária da liturgia das horas.

Na homilia da Missa na Esplanada dos Inválidos, em 13 de setembro, ele abordou a doutrina da Eucaristia e da "presença real" do corpo e sangue de Cristo em palavras muito empenhativas, que exigem que a Missa seja celebrada com um sentido de sacralidade que tem sido largamente ausente nas últimas décadas.

Bento XVI retornou novamente a esta "presença real" na celebração eucarística na meditação da procissão em Lourdes, na noite de 14 de setembro.

Com uma passagem dedicada a todos aqueles que "não podem ou ainda não podem - receber Jesus no Sacramento, mas podem contemplá-Lo com fé e amor e finalmente expressar o seu desejo de estar unidos com Ele". Dentre estes podem ser contados os divorciados e recasados católicos, a quem a Igreja não dá comunhão. Mas o seu " desejo", disse o papa, "tem um grande valor na presença de Deus."

Nestes convites para voltar ao autêntico espírito da liturgia, Bento XVI acrescentou também, em 14 de setembro, em Lourdes, uma ilustração do sentido profundo do Angelus Domini, a oração mariana que ele recita em público, todos os domingos ao meio-dia.

sábado, 20 de setembro de 2008

A manifestação da beleza se manifesta na celebração do mistério da santa Missa. O impacto da beleza nos revela a ternura de Deus em cores, luzes e sons, a partir do que os nossos olhos contemplam na natureza .Na Eucaristia , a natureza aparece transformada, o trigo em pão, a uva em vinho, a árvore em mesa, o algodão em toalha, a cera das abelhas em vela . Não se pode apreciar devidamente a Eucaristia se a sua celebração não estiver impregnada do encanto da beleza . A alegria da beleza tem a propriedade de produzir a bondade , a função da liturgia é abrir espaço para a Beleza, para a bondade que salva . É função do rito fazer a passagem de uma situação caótica ou de dispersão para uma nova realidade que integra o que está disperso e dá significado à existência . O rito alarga a compreensão da realidade que nos envolve e nos propõe o mistério na sua totalidade. O rito, como a beleza, necessita de tempo, espaço, proximidade e atenção para transformar o que é meramente exterioridade em interioridade. E, para isso recorre à memória e à repetição de certos gestos, palavras e símbolos, actuando nas três dimensões da temporalidade: o presente, o passado e o futuro . A ritualidade litúrgica revela uma Igreja, reunida em nome do Senhor, que busca o divino, a graça, a salvação, o invisível na fragilidade do humano. Busca nas coisas que passam, as que não passam . O que nos é dado a ver, nos é dado a viver. Na liturgia, beleza e ritualidade se encontram
VIAGEM APOSTÓLICA À FRANÇA
POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO
DAS APARIÇÕES DE LOURDES

PROCISSÃO DAS VELAS

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Sábado, 13 de Setembro de 2008
Há cento e cinquenta anos, no dia 11 de Fevereiro de 1858, neste lugar chamado A gruta de Massabielle, fora da povoação, uma simples adolescente de Lourdes, Bernadete Soubirous, viu uma luz e, nesta luz, uma jovem mulher «linda, mais linda que tudo». Esta Senhora dirigiu-se-lhe com bondade e doçura, com respeito e confiança: «Ela tratava-me por vós (narra Bernadete) ... Quereis fazer-me o favor de vir aqui durante os próximos quinze dias? (pergunta-lhe a Senhora) ... Ela fixava-me como uma pessoa que fala a outra pessoa». É nesta conversa, neste diálogo repleto de delicadeza, que a Senhora a encarrega de transmitir certas mensagens muito simples sobre a oração, a penitência e a conversão. Não causa maravilha que Maria seja bela, visto que, na aparição de 25 de Março de 1858, Ela revela o seu nome assim: «Eu sou a Imaculada Conceição».

Por nossa vez, contemplamos aquela «Mulher revestida de sol» (Ap 12, 1) que a Escritura nos descreve. A Santíssima Virgem Maria, a Mulher gloriosa do Apocalipse, traz na sua cabeça uma coroa de doze estrelas, que representam as doze tribos de Israel, todo o povo de Deus, toda a comunhão dos Santos, e conjuntamente tem aos seus pés a lua, imagem da morte e da mortalidade. Maria deixou a morte atrás de Si; está inteiramente revestida de vida, a vida do Filho, de Cristo ressuscitado. Assim, Ela é o sinal da vitória do amor, do bem e de Deus, que dá ao nosso mundo a esperança de que tem necessidade. Nesta tarde, voltemos o nosso olhar para Maria, tão gloriosa e tão humana, e deixemos que seja Ela a conduzir-nos para Deus, que é o vencedor.

Vindo em peregrinação aqui, a Lourdes, queremos entrar – na esteira de Bernadete – naquela extraordinária proximidade entre o céu e a terra que nunca falhou e não cessa de se consolidar. Durante as aparições – há que o sublinhar – Bernadete reza o terço sob o olhar de Maria, que Se une a ela no momento da doxologia. Este facto confirma o carácter profundamente teocêntrico da oração do Rosário. Quando rezamos o terço, Maria oferece-nos o seu coração e o seu olhar para contemplarmos a vida do seu Filho, Jesus Cristo. O meu venerado Predecessor João Paulo II veio duas vezes aqui a Lourdes. Sabemos como, na sua vida e no seu ministério, a sua oração se apoiava na intercessão da Virgem Maria. Como muitos dos seus Predecessores na Cátedra de Pedro, também ele encorajou vivamente a oração do terço; fê-lo, além disso, de uma maneira muito singular, enriquecendo o Rosário com a meditação dos Mistérios Luminosos. Como para todos os acontecimentos da vida de Cristo que Ela «conservava e meditava no seu coração» (Lc 2, 19), Maria faz-nos compreender todas as etapas do ministério público como parte integrante da revelação da Glória de Deus. Possa Lourdes, terra de luz, permanecer uma escola para aprender a rezar o Rosário, que introduz os discípulos de Jesus, sob o olhar de sua Mãe, num diálogo autêntico e cordial com o seu Mestre!

Pela boca de Bernadete, ouvimos a Virgem Maria pedir-nos para «vir aqui em procissão» rezar com simplicidade e fervor. A procissão de velas traduz aos nossos olhos de carne o mistério da oração: na comunhão da Igreja, que une eleitos do céu e peregrinos da terra, a luz brota do diálogo entre o homem e o seu Senhor, e um caminho luminoso abre-se na história dos homens, incluindo mesmo os momentos mais escuros. Esta procissão é um momento de grande alegria eclesial, mas também um tempo de austera reflexão: as intenções que trazemos connosco sublinham a nossa profunda comunhão com todos os seres que sofrem.

Maria ensina-nos a rezar, a fazer da nossa oração um acto de amor a Deus e de caridade fraterna. Rezando com Maria, o nosso coração acolhe aqueles que sofrem. Consequentemente como poderia a nossa vida não ficar transformada? Porque é que o nosso ser e a nossa vida inteira não deveriam tornar-se lugares de hospitalidade para o nosso próximo? Lourdes é um lugar de luz, porque é um lugar de comunhão, de esperança e de conversão.

Agora que cai a noite, Jesus diz-nos: «Permanecei com as vossas lâmpadas acesas» (Lc 12, 35); a lâmpada da fé, a lâmpada da oração, a lâmpada da esperança e do amor. Este caminhar na noite, levando a luz, fala forte ao nosso íntimo, toca o nosso coração e diz muito mais do que qualquer palavra pronunciada ou ouvida. Este gesto resume por si só a nossa condição de cristãos a caminho: temos necessidade de luz e, ao mesmo tempo, somos chamados a tornar-nos luz. O pecado torna-nos cegos, impede de nos propormos como guia para os nossos irmãos e impele-nos a desconfiar deles e a não se deixar guiar. Temos necessidade de ser iluminados e repetimos a súplica do cego Bartimeu: «Mestre, faz que eu veja!» (Mc 10, 51). Faz que eu veja o meu pecado que me bloqueia, mas sobretudo, Senhor, faz que eu veja a tua glória! Como sabemos, a nossa oração já foi atendida e damos graças porque, como diz São Paulo na Carta aos Efésios: «Cristo te iluminará» (Ef 5, 14), e São Pedro acrescenta: «Ele chamou-vos das trevas para a sua luz admirável» (1 Pd 2, 9).

A nós, que não somos a luz, agora Cristo pode dizer: «Vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 14), confiando-nos a preocupação de fazer resplandecer a luz da caridade. Como escreve o Apóstolo São João: «Aquele que ama a seu irmão, permanece na luz e nele não há ocasião de queda» (1 Jo 2, 10). Viver o amor cristão é fazer entrar a luz de Deus no mundo e, ao mesmo tempo, indicar a sua verdadeira fonte. São Leão Magno escreve: «Com efeito, quem quer que viva piedosa e castamente na Igreja, quem pensa nas coisas lá de cima e não nas da terra (cf. Cl 3, 2), é de certo modo semelhante à luz celeste; ao mesmo tempo que produz o brilho de uma vida santa, indica a muitos, como uma estrela, o caminho que leva a Deus» (Sermão III, 5).

Neste santuário de Lourdes, para onde os cristãos do mundo inteiro voltam o olhar desde que a Virgem Maria fez brilhar aqui a esperança e o amor, reservando para os doentes, os pobres e os pequeninos o primeiro lugar, somos convidados a descobrir a simplicidade da nossa vocação: na realidade, basta amar.

Amanhã, a celebração da Exaltação da Santa Cruz far-nos-á entrar precisamente no coração deste mistério. Nesta vigília, o nosso olhar volta-se para o sinal da nova Aliança para o qual converge toda a vida de Jesus. A Cruz constitui o supremo e perfeito acto de amor de Jesus, que dá a vida pelos seus amigos. «Tem de ser levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que n’Ele crer tenha a vida eterna» (Jo 3, 14-15).

Anunciada nos Cânticos do Servo de Deus, a morte de Jesus é uma morte que se torna luz para os povos; é uma morte que, associada com a liturgia de expiação, traz a reconciliação, uma morte que assinala o fim da morte. A partir de então, a Cruz é sinal de esperança, estandarte da vitória de Jesus, porque «Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). Pela Cruz, toda a nossa vida recebe luz, força e esperança. Por ela, é revelada toda a profundidade do amor contido no desígnio original do Criador; por ela tudo é restabelecido e levado à sua perfeição. É por isso que a vida na fé em Cristo morto e ressuscitado se torna luz.

As aparições eram cheias de luz e Deus quis acender no olhar de Bernadete uma chama que converteu inúmeros corações. Quantas pessoas vêm aqui para ver – esperando talvez secretamente – se recebem algum milagre; depois, no caminho do regresso, tendo feito uma experiência espiritual de vida autenticamente eclesial, mudam o seu modo de ver Deus, os outros e a si mesmas. Uma pequena chama, denominada esperança, compaixão e ternura, as habita. O encontro discreto com Bernadete e a Virgem Maria pode mudar uma vida, porque Elas estão presentes neste lugar de Massabielle para nos levar a Cristo, que é a nossa vida, a nossa força e a nossa luz. Que a Virgem Maria e Santa Bernadete vos ajudem a viver como filhos da luz para testemunhardes, todos os dias da vossa vida, que Cristo é a nossa luz, a nossa esperança, a nossa vida!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Monsenhor Nicola Bux, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, estudou a influência que o relativismo está tendo na relação das comunidades católicas com a Eucaristia.

Recolhe suas conclusões no livro «O Senhor dos Mistérios. Eucaristia e relativismo» («Il Segnore dei Misteri. Eucaristia e Relativismo»), publicado em italiano por Cantagalli, com prefácio do cardeal Angelo Scola, patriarca de Veneza.

Monsenhor Bux também é consultor da Congregação para as Causas dos Santos, professor de Liturgia Comparada, vice-presidente do Instituto Ecumênico de Bari e consultor da revista teológica internacional «Communio».

Publicou uma dezena de livros, um dos quais apresentado em Roma pelo cardeal Joseph Ratzinger: «A unidade dos cristãos para o Terceiro Milênio», publicado pela Livraria Editora Vaticana, em 1996.

Nesta entrevista concedida a Zenit, Monsenhor Bux fala da influência do relativismo na Igreja e no Sacramento da Eucaristia.

--Eucaristia e relativismo: o título é evocador mas inquietante. O que quer sugerir exatamente ao vincular à Eucaristia com o relativismo?

--Dom Bux: No livro indicam-se numerosos intentos por obscurecer a verdade do Sacramento: um dos mais graves é negar que Jesus Cristo esteja presente no pão e no vinho sobre os quais o sacerdote pronuncia as palavras consagratórias. Infelizmente esta tendência também está difundida entre sacerdotes e catequistas.

Pelo contrário, o «Compêndio» do Catecismo da Igreja Católica afirma no artigo 283 a eficácia das palavras de Cristo e o poder do Espírito Santo.

--«A crise do cristianismo é a crise de sua pretensão de verdade», advertem os adversários da Igreja, como escreve em seu livro. É assim?

--Dom Bux: Esta afirmação é verdadeira se se presta atenção nas intervenções de alguns eclesiásticos que estão preocupados em não ferir a sensibilidade ou que até estão convencidos de que a fé em Jesus Cristo não seja a verdade que salva o homem, mas só uma entre outras. Esta afirmação não é verdadeira se se escuta o Papa Bento XVI e os bispos unidos com ele em suas intervenções.

--Às vezes aos é difícil aos próprios católicos celebrar com alegria os sacramentos. O que está acontecendo?

--Dom Bux: É necessário voltar a falar a eles dos sacramentos como o prolongamento da presença do Senhor que veio a querer-nos, a adoptar-nos como órfãos, a dar-nos a força de seu Espírito, a alimentar-nos com o Pão de sua Vida, a perdoar-nos dos pecados que pesam e condicionam a existência, a curar-nos das enfermidades físicas e espirituais, a dar-nos a capacidade de servir a Ele e aos homens na Igreja e no mundo, a estabelecer uma relação de amor verdadeiro e eterno entre homem e mulher, parecido a seu amor.

Cada uma destas acções é um gesto que Cristo cumpriu em sua vida terrena e continua cumprindo em sua vida imortal através de seu corpo eclesial. Tais gestos e palavras eficazes nós chamamos de mistérios e sacramentos, segundo a tradição grega e latina.

Dão a alegria verdadeira, pois fazem renascer, curar e devolver ao homem a capacidade de vencer o mal e a morte. A liturgia deverá ser capaz de fazer viver assim, sem confiar demasiado em palavras, mas na eloquência e eficácia dos sinais.

Deus se encarnou, tomou a natureza humana para dizer-nos que nos salva através da matéria: da água, do pão, do óleo, etc.

--O senhor constata que há «mal-estar» ante o pensamento católico. Por quê?

--Dom Bux: Diz São Paulo: nós temos o pensamento de Cristo. A verdade é católica porque Cristo que vive e sempre tem valor, onde quer que seja e em todos os lugares --como dizia um monge medieval, Vicenzo de Lerins--, e não se conforma com as modas que passam.
Monsenhor Nicola Bux, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, falou na sua conferencia no congresso em Roma acerca da “ reforma paciente de Bento XVI”. “A Liturgia é expressão da comunhão com os séculos passados, com as gerações de quem nos precederam, assim como transmitimos esta mesma comunhão àqueles que virão . Creio que isto é, também, o fundamento do Motu Proprio”. “Todos falamos de pluralismo, esta é uma das palavras mágicas. É certo, que nós não professamos no Credo a Igreja pluralista mas a Igreja una mas também católica, e esta palavra significa uma inclusão global das diversas formas de expressão da fé. Sabemos que a fé não se expressa num único modo. Todos sabemos que existe o Oriente e que expressa sua fé em sua maneira particular. Então, de que nos admiramos?”. “Não creio que haja oposição entre as duas formas mas, como diz o Santo Padre, um enriquecimento. Há que experimentar para crer”. Por último, Bux afirmou: “O ponto é entender que não há verdadeira inovação tirando a Tradição. Creio que isto o compreendemos todos. É necessário eliminar os medos de que, por exemplo, se negue o Concílio Vaticano II, que está absolutamente fora de discussão. Necessitamos a abertura tanto de quem tem esta preocupação como dos que amam mais a tradição, e não poderá senão converter-se numa grande vantagem saudável quer para uns quer para os outros, e principalmente para a Igreja”.
Extractos da Homilia do Papa Bento XVI em Paris a 13 de Setembro de 2008

Como chegar a Deus? Como chegar a encontrar ou reencontrar Aquele que o homem busca no mais profundo de si mesmo, embora O esqueça tão frequentemente? Para O descobrirmos, São Paulo pede-nos que façamos uso não apenas da nossa razão, mas sobretudo da nossa fé. Pois bem, o que é que a fé nos diz? O pão que partimos é comunhão no Corpo de Cristo; o cálice de bênção que abençoamos é comunhão no Sangue de Cristo. Uma revelação extraordinária, que nos vem de Cristo e nos é transmitida pelos Apóstolos e por toda a Igreja, há quase dois mil anos: Cristo instituiu o sacramento da Eucaristia na noite de Quinta-Feira Santa. Ele quis que o seu sacrifício estivesse de novo presente, de maneira não sangrenta, todas as vezes que um sacerdote repete as palavras da consagração sobre o pão e o vinho. Milhões de vezes desde há vinte séculos, tanto na mais humilde das capelas como na mais grandiosa das basílicas ou das catedrais, o Senhor ressuscitado entregou-Se ao seu povo, tornando-Se assim, segundo a fórmula de Santo Agostinho, «mais íntimo a nós do que nós mesmos» (cf. Confissões III, 6.11).
Irmãos e irmãs, rodeemos da maior veneração o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, o Santíssimo Sacramento da presença real do Senhor na sua Igreja e na humanidade inteira. Nada descuremos para Lhe manifestar o nosso respeito e o nosso amor. Ofereçamos-Lhe os maiores sinais de honra! Através das nossas palavras, dos nossos silêncios e dos nossos gestos, nunca permitamos que se atenue, em nós e ao nosso redor, a fé em Cristo ressuscitado, presente na Eucaristia. Como diz de modo magnífico o próprio São João Crisóstomo: «Passemos em revista as graças inefáveis de Deus e todos os bens que nos faz desfrutar, quando Lhe oferecemos este cálice, quando comungamos, dando-Lhe graças por ter libertado o género humano do erro, por ter aproximado de Si aqueles que se tinham afastado, por ter feito de desesperados e ateus deste mundo um povo de irmãos, de co-herdeiros do Filho de Deus» (Homilia 24 sobre a Primeira Carta aos Coríntios, 1). Com efeito – continua ele – «o que está no cálice é precisamente aquilo que escorreu do seu lado, e é nisto que participamos» (Ibidem). Não há somente participação e partilha, há também «união» – diz ele.
A Missa é o sacrifício de acção de graças por excelência, o que nos permite unir a nossa acção de graças à do Salvador, o Filho eterno do Pai. Em si mesma, a Missa convida-nos também a fugir dos ídolos, porque – como São Paulo insiste – «vós não podeis beber do cálice do Senhor e do cálice dos espíritos malignos» (1 Cor 10, 21). A Missa convida-nos a discernir aquilo que, em nós, obedece ao Espírito de Deus e o que, em nós, permanece à escuta do espírito do mal. Na Missa, desejamos pertencer unicamente a Cristo, retomando com gratidão – com «acção de graças» – o brado do Salmista: «Como retribuirei ao Senhor todo o bem que Ele me fez?» (Sl 116, 12). Sim, como agradecer ao Senhor pela vida que Ele me deu? A resposta à pergunta do Salmista encontra-se no próprio Salmo, porque misericordiosamente a própria Palavra de Deus responde às questões que formula. Como dar graças ao Senhor por todo o bem que Ele nos faz, senão atendo-nos às suas próprias palavras: «Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor» (Sl 116, 13)?
Porventura elevar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor não é precisamente o melhor meio para «fugir dos ídolos», como nos pede São Paulo? Cada vez que uma Missa é celebrada, cada vez que Cristo Se torna sacramentalmente presente na sua Igreja, realiza-se a obra da nossa salvação. Por isso, celebrar a Eucaristia significa reconhecer que só Deus é capaz de nos dar a felicidade plena, de nos ensinar os verdadeiros valores, os valores eternos que jamais conhecerão ocaso. Deus está presente no altar, mas encontra-Se também presente no altar do nosso coração quando, comungando, O recebemos no sacramento eucarístico. Só Ele nos ensina a fugir dos ídolos, miragens do pensamento.
Pois bem, queridos irmãos e irmãs, quem pode elevar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor por conta de todo o povo de Deus, a não ser o sacerdote ordenado pelo Bispo para tal finalidade?
Mons. Camille Perl: os bispos têm colocado entraves na aplicação do Motu Proprio
A missa em latim vem, de fato, sendo dificultada pelos bispos. Assim denunciou em uma conferência na Cidade do Vaticano o Vice-Presidente da Comissão Ecclesia Dei, Monsenhor Camille Perl: “Na Itália a maioria dos bispos, com poucas excepções admiráveis, têm colocado entraves na aplicação do Motu Próprio sobre a missa em latim. O mesmo é preciso dizer de muitos dos Superiores Gerais proibindo os seus padres de celebrarem a missa segundo o rito antigo.”

Mons. Camille Perl
Organiza o encontro “Motu Próprio Summorum Pontificum de Sua Santidade Bento XVI - Uma riqueza espiritual para toda Igreja, um ano depois” a Associação “Giovani e tradizione”, com o patrocínio da Comissão “Ecclesia Dei .
As requisições por parte dos fiéis vêm de um núcleo de países: França, Grã-Bretanha, Canadá, Estados Unidos, da Austrália.
Na França alguns jovens sacerdotes tomaram a iniciativa, explicou Monsenhor Perl, de celebrar a missa segundo o rito de São Pio V, revista por João XXIII, sem pedir permissão para os bispos. “Além disso – disse o Secretário da Ecclesia Dei – o Papa tinha posto em suas mãos o antigo missal. Alguns bispos têm apoiado essas iniciativas, outros não”.
Mas o problema na França, como na Alemanha, é, mais geralmente, a escassez de sacerdotes: “Se acumulam na minha mesa cartas de fiéis de várias partes do mundo que reclamam a aplicação do motu proprio. Mas temos de ter em conta o facto de que o número de sacerdotes é pouco em todos os lugares. Assim, um sacerdote que já deva celebrar três ou quatro missas em um dia é incapaz de adicionar uma outra. Este é um problema especialmente nas dioceses rurais na França e na Alemanha, onde um único sacerdote tem um grande território para cobrir.”
Além disso, afirmou Monsenhor Perl, “temos de ter em conta que o rito reformado por Paulo VI está em vigor há 40 anos e há muitos padres que não sabem como a celebrar missa com o velho rito, sem contar que foram doutrinados de acordo com uma visão precisa: a saber, que a velha liturgia está superada“. “Mas também há jovens sacerdotes que querem celebrar a missa em latim, e penso que o Papa tenha feito o Motu Próprio pensando neles“.
Mesmo nos Estados Unidos, há fiéis que devem fazer grandes viagens para chegar à igreja onde se celebra a missa em latim, porque nem todos os sacerdotes querem celebrar.
Assim, disse Perl, “é preciso lembrar que um ano é pouco na vida da Igreja, e é normal que muitos fiéis estejam desapontados porque pensavam numa aplicação imediata e generalizada em todo lugar.”
No entanto, a um ano de distância o clima está mudando favoravelmente.
“Não temos nenhuma intenção de fazer o processo à nova liturgia”, mas a liturgia pós-conciliar “é uma mistura de antigo e novo que, muitas vezes, produz uma falta de harmonia e de confusão“, concluiu Monsenhor Perl.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Monsenhor Guido Marini

Os Católicos descobrirão no sábado, em Les Invalides, o retorno de práticas esquecidas.

Na sacristia, é ele quem supervisiona as vestimentas de Bento XVI. O Papa entra, eles trocam um sorriso, já focados na Missa que o Sucessor de Pedro se prepara para celebrar. Monsenhor Guido Marini, jovem prelado italiano de 43 anos, é o Mestre de Cerimónias Litúrgicas Papais. Sua face ingénua mostra uma aparência muito precisa. Nenhum detalhe parece lhe escapar. Magro, alto, ele respeitosamente auxilia o Papa a colocar seus paramentos. Depois, vem um tempo de oração. A Missa pode começar.

Na manhã de sábado, atrás do altar instalado na Esplanada dos Inválidos, Monsenhor Guido Marini da mesma forma irá ajudar o Papa Bento XVI. Em outubro de 2007 ele mesmo apontou o jovem prelado a essa posição mais que sensível. Ele está encarregado de organizar, num segundo, as Missas do Papa: da escolha dos paramentos e acessórios litúrgicos ao canto, sem esquecer da escolha dos cálices e da postura do corpo. É o estilo formal da celebração da Eucaristia que está em suas mãos. Quando se conhece o compromisso de Bento XVI com a bela liturgia, ele não poderia ter escolhido ao acaso aquele que substituiu outro Marini, Piero Marini, cuja face é mais conhecida já que foi o Mestre de Celebrações de João Paulo II por duas décadas. Realmente, o mestre de cerimónias está sempre a dois passos do Papa durante as celebrações maiores.

Uma cruz no centro do altar.

Uma posição exposta, portanto, nos média e ainda mais eclesialmente. O jovem Guido Marini conhece algo sobre isso. Nos últimos meses ele concentra em si os méritos, mas também as críticas. Ele incorpora o retorno da tradição. As razões são as “inovações” litúrgicas para a Missa do Papa, que são todas reinício de elementos esquecidos nos últimos anos. Mas é verdade que em matéria de liturgia o mínimo símbolo é repleto de significado.

Então os Parisienses na manhã de sábado, e aqueles que seguirem a Missa em Lourdes, nas manhãs de domingo e segunda, não se surpreenderão em ver que o Papa dará a Comunhão na boca dos fiéis ajoelhados, excepto, claro, se a pessoa estiver fisicamente impossibilitada. Que Bento XVI, outro exemplo, não mais sistematicamente carrega a famosa cruz pastoral prateada de João Paulo II.

Que uma majestosa cruz retornará ao centro do altar do qual ela fora retirada, sob o Papa João Paulo II, por ser um problema para as imagens de televisão. Que as milhares de hóstias consagradas serão mantidas num cibório de metais preciosos e não de argila. Deve-se também mencionar o uso, para as grandes Festas, das antigas mitras papais, ricamente decoradas e que dormia entre os tesouros do Vaticano. E o uso, em certos casos, do trono papal….

Tantas “novidades” que reasseguram algumas, mas problemáticas partes da Igreja, e mesmo perturbam aqueles que denunciam isso como “um passo atrás”. É dito que certas pessoas estavam de alguma forma chocadas por esses pedidos, quando Monsenhor Guido Marini veio para preparar, no meio de Junho, as viagem desta semana do Papa. A respeito, em particular, da questão da comunhão na boca e de joelhos.

Se Monsenhor Guido Marini não é para nada nesses desenvolvimentos, seria desconhecimento do funcionamento da Santa Sé imaginar que ele é a única pessoa responsável por isso. Particularmente já que existe na Igreja Católica um “ministério” responsável por esses assuntos: a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Se ele aconselha, o Papa decide. É, portanto, o próprio Bento XVI que deseja esse novo curso. A escolha desse mestre de celebrações litúrgicas papais foi recomendada por seu Secretário de Estado, o Cardeal Tarcisio Bertone, número 2 da Santa Sé, de quem foi mestre de cerimónias, quando era arcebispo de Gênova, o Monsenhor Guido Marini, um padre lá conhecido por esse seu carisma pastoral, de temperamento moderado e atencioso para com todos, qualidades que ele aparentemente não perdeu no Vaticano. Ele detém um duplo doutorado em direito, civil e canônico, e uma licenciatura em psicologia e comunicação.

Em seu luminoso escritório no Vaticano, na esquina da Praça São Pedro, Monsenhor Marini explica: “Bento XVI quer enfatizar que as normas para distribuir a Comunhão na Igreja Católica ainda estão em vigor. Esqueceu-se absolutamente que a distribuição da Santa Comunhão na mão é devido a um indulto, uma excepção pode-se dizer, dada pela Santa Sé às conferências episcopais que o requisitaram”. Ele reconhece que Bento XVI tem uma “preferência” pela comunhão na mão . Entretanto, ele observa, “receber a hóstia na boca enfatiza a verdade da Presença Real na Eucaristia, ajuda na devoção dos fiéis e introduz mais facilmente no sentido de mistério. Muitos aspectos são importantes de ressaltar hoje e urgentes de se recuperar”. Nada, portanto, de uma fantasia papal. Essas mudanças nas formas litúrgicas são partes de uma visão clara de Bento XVI e explicitamente expressa em Roma por muitos interlocutores próximos a ele: “Conseguir, finalmente, uma síntese litúrgica entre a Missa de Paulo VI e aquilo que a tradição pode contribuir para seu enriquecimento”.

Como método para chegar lá, ele recusa a trilhar uma nova guerra litúrgica, mas procura contar com “pedagogia” e “paciência”. Ainda de acordo com os proponentes desse assunto, o Papa quer contrapor “pelo exemplo” as “deficiências” que ele sempre denunciou desde 1970: a falta de “recolhimento” e “silêncio”; a perda do “sentido do sagrado”, que ele também chama de sentido “cósmico” da celebração litúrgica onde, conforme a teologia Católica, e por sinal também a Ortodoxa, “o próprio Deus, através da encarnação do Filho, faz-Se realmente presente na hóstia Consagrada”.

“Servindo o sentido do sagrado”.

Monsenhor Guido Marini é formal: “Não é uma batalha entre o antigo e o moderno, muito menos entre o pré-conciliar e o conciliar. Esse tipo de ideologia problemática está hoje desactualizado. O antigo e o novo pertencem a um mesmo tesouro da Igreja. A celebração litúrgica deve ser a celebração do mistério sagrado, do Senhor crucificado e ressuscitado. É nosso dever encontrar, na herança da liturgia, uma continuidade para servir este sentido do sagrado.” E ele aponta, de passagem, que muitos focam nos quatro ou cinco desenvolvimentos dos últimos meses sem ver que ele trabalha tanto com o “legado” de seus predecessores, entre eles o Arcebispo Piero Marini. “Não há ruptura com o que estava sendo feito anteriormente”, ele assegura. Quanto ao uso do trono papal e de antigas mitras, não é sistemático [no sentido de “exclusivo”]: eles são usados “apenas em algumas solenidades”.

Sem ruptura, certamente, mas esse movimento de branda reforma da liturgia, tão simbólico quanto possa ser em suas aparências, está firmemente enraizado no pensamento de Bento XVI. Ele nunca escondeu nada antes de se tornar Papa. Em suas Mémoires, Ma Vie 1927-1977, publicado dez anos atrás na França por Fayard, Joseph Ratzinger mostrou suas cores a respeito da forma litúrgica do Concílio Vaticano Segundo que ele viveu aos quarenta anos: “Eu estava consternado”, escreveu, “com o banimento do antigo Missal, já que tal desenvolvimento nunca fora visto na história da liturgia. (…) Uma renovação litúrgica que reconheça a unidade da história da liturgia e que entenda o Vaticano II não como uma ruptura, mas como um estágio de desenvolvimento: essas coisas são urgentemente necessárias para a vida da Igreja. Estou convencido que a crise na Igreja que estamos experimentando hoje é em grande escalada devida a uma desintegração da liturgia (…). É por isso que precisamos de um novo movimento litúrgico que chamará à vida a real herança do Concílio”. Como um fino conhecedor da vida Romana diz, Pe. Federico Lombardi, um experiente Jesuíta que chefia a Rádio Vaticano e a Sala da Imprensa, deve-se ser cauteloso com “interpretações” que levariam a considerar esses desenvolvimentos como uma revolução. Mas tudo sugere que esse “novo movimento litúrgico” está bem e verdadeiramente lançado. Bento XVI não visa disseminá-lo através de regulamentações, mas pela força do exemplo.