sábado, 22 de fevereiro de 2014

Amor sem limites à Cátedra de São Pedro

Os senhores sabem que Pio IX, um grande Papa do qual temos uma relíquia indireta, — um pedaço de seu caixão mortuário, — e cujo processo de canonização está introduzido [ foi beatificado por S.S. João Paulo II em 3 de setembro de 2000 ], teve um primeiro período de seu governo considerado liberal. Não que ele tivesse defendido algum erro doutrinário do liberalismo em seus documentos, mas tomou uma série de medidas tidas como liberais (*).

Amor sem limites à Cátedra de São Pedro
Extratos do "Santo do Dia" de 17 de janeiro de 1966
É por um desígnio soberano de Deus que a cidade de Roma foi escolhida para ser a cidade do Papa. Era uma cidade estratégica, onde o benefício da salvação podia tomar-se mais geralmente conhecido. Daí vem a celebração da Cátedra, que se trata de venerar. Posta no ponto nevrálgico e no centro de influência do mundo, a Cátedra “inoculou” a regeneração católica, a verdadeira fé, e disseminou a Igreja.
Quando se fala de Cátedra de São Pedro, alude-se naturalmente ao móvel que constitui essa cátedra. Na Igreja de São Pedro há uma cátedra de bronze, feita por Bernini. Dentro encontra-se o pequeno trono de madeira que São Pedro usava em Roma, e que até hoje se conserva para veneração dos fiéis.
Simbolicamente, cátedra lembra poder, instituição, Papado, Pontificado. Recorda a continuidade dessa instituição mantida por tantos homens, tão diferentes, que a têm ocupado. Lembra o supremo governo da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, lembra a cabeça da Igreja. Se as vicissitudes humanas podem dar-lhe brilho maior ou menor, ou até rodeá-la de trevas, essa Cátedra é sempre a mesma. E o supremo governo da Igreja é a sua Cabeça, que sobretudo deve ser amada quando se ama a Igreja.
Portanto, nosso amor à Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana — que é um amor absolutamente sem limites e acima de todas as coisas da Terra — deve incidir especialmente sobre o Papado e a Cátedra de São Pedro, qualquer que seja o seu ocupante. Porque esse é Pedro — a quem foram dadas as chaves dourada e prateada (símbolos do poder espiritual e temporal) — a quem nós, em espírito, osculamos os pés, como expressão de homenagem e de adesão, porque em relação à Cátedra de São Pedro nosso amor, nossa obediência e veneração absolutamente não têm limites. Eis o que é especialmente conveniente acentuar sobre a Cátedra de São Pedro.
( Retirado da Seção "Excertos", da revista "Catolicismo" Nº 710, fevereiro de 2010 )

De tal maneira que na Itália daquele tempo, — dividida pitoresca, proveitosa e eficientemente em pequenos reinos, principados e cidades livres, — que pendia para a unificação, os independentistas que queriam unificar a Itália, davam um brado revolucionário pelas ruas para ligar e atrair a uma ação comum os anarquistas e os afilhados da seita de Mazzini: “Viva Pio IX!".

Este brado recrutava nas ruas a fina flor dos lazzarones, dos sem vergonha, dos revolucionários, da máfia, da camorra e de tudo o mais que queiram, na luta contra aqueles pequenos tronos cujo desaparecimento hoje lamentamos.

Nessa situação difícil, em que um Papa era transformado em símbolo da Revolução, vivia o grande santo D. Bosco. Nos colégios de D. Bosco penetrava também o brado “Viva Pio IX”. E um ou outro desses alunos, que os senhores podem imaginar de que jeito eram, gritavam “Viva Pio IX” no meio do recreio. O brado de revolta.

Dom Bosco teve então uma atitude, que foi a seguinte: “não gritem ‘Viva Pio IX’, gritem ‘Viva o Papa’!” (**) É a saída soberanamente inteligente, porque "Viva o Papa" a gente deve gritar sempre. Isto está no processo de canonização de D. Bosco e não impediu que fosse canonizado nem que sua obra fosse abençoada pela Providência de todos os modos.

Na raiz disso está uma distinção muito importante: a distinção entre o Papa e o papado; entre a pessoa do Papa, sujeita às misérias humanas, sujeita também a erros onde não é amparado pela infalibilidade e, de outro lado, a instituição, que é inteiramente distinta da pessoa. E se é verdade que de vez em quando se grita: “viva fulano” e às vezes se cala e às vezes se chora, e sempre se reza, há um brado que se dá sempre, e este brado é "Viva o Papa"!, "Viva o Papado"!

A Cátedra de São Pedro

É por causa disso que a festa que vai ser celebrada hoje, a festa da Cátedra de São Pedro, é uma festa extremamente oportuna, porque ela celebra o Papa enquanto mestre, ela celebra o Papado enquanto tendo uma Cátedra infalível que se dirige ao mundo e que esta é, de fato infalível. E é portanto a infalibilidade do Papa, por assim dizer, é a ortodoxia, aquilo em que o Papado não erra nunca, que é o objeto dessa celebração de hoje.

Sabemos que da Cadeira de São Pedro conservou-se quase toda a estrutura, guardada na Igreja de São Pedro, em Roma. Na “Glória” de Bernini existe uma Cátedra de bronze, oca, que de vez em quando se abre e que contém dentro um banquinho, que é considerado como tendo sido a cadeira de São Pedro.

A festa da Cátedra de São Pedro tem em vista este objeto, mas tem, muito mais do que esse objeto, em vista o fato de Roma ser a Cátedra de São Pedro, e o fato de Nosso Senhor Jesus Cristo ter dado a São Pedro uma Cátedra infalível, e o fato dessa Cátedra governar a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana. É, portanto, esse fato que se celebra no dia de hoje.

Estátua de São Pedro
Arnolfo di Cambio, c.1300

Na nave central da Basílica de São Pedro há uma imagem, preta, de material escuro, que representa o Papa. É São Pedro, com as chaves na mão, sentando numa cátedra e com o pé à altura dos lábios dos fiéis. E todos os peregrinos que vão a Roma passam por lá e osculam o pé de São Pedro. O resultado é que com o ósculo mil e mil vezes repetido, o pé de São Pedro está até desgastado. Acho que é o único exemplo na história em que ósculos destroem bronze.

E o bonito é que no dia da festa do Papa — parece-me que no aniversário do Papa, em todo o caso no dia de São Pedro, — essa imagem é revestida com os ornamentos pontificais. De maneira que ela tem tiara, tem tudo, fica vestida como se fosse um Papa vivo, para indicar a magnífica e evidente solidariedade e continuidade que vai de São Pedro até o Papa de nossos dias.

Nós o que devemos fazer hoje? Em espírito, oscular o pé dessa imagem. Quer dizer, em espírito oscular o Papado, em espírito oscular esse princípio de sabedoria, de infalibilidade da autoridade que governa a Igreja Católica. E, por meio de Nossa Senhora, agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo a instituição da infalibilidade desta Cátedra, que é propriamente a coluna do mundo; porque se não houvesse infalibilidade, o mundo estava completamente perdido, a Igreja destroçada e com ela o mundo perdido. E também o caminho para o céu. Porque os homens não encontrariam o caminho para o céu se não houvesse uma autoridade infalível para governar.

Entretanto, uma coisa que devemos lembrar é o seguinte: a fidelidade à cátedra não se confunde inteiramente e sob todos os pontos de vista com a aceitação incondicional do que faz a pessoa. Nosso Senhor Jesus Cristo faz uma distinção entre a cátedra e a pessoa. Embora o catedrático seja ele e os poderes da cátedra residam nele, nem tudo nele é cátedra, e não podemos imaginar a Igreja como ela não foi feita por Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja foi feita por Nosso Senhor Jesus Cristo de maneira a ser assim. (***)

Com a cátedra ou com o catedrático? Com a cátedra, até morrer, notando sempre que a cátedra nunca está fora do catedrático. E que portanto não se pode ter uma fidelidade abstrata ao papado, que não seja fidelidade concreta ao Papa atual, em toda medida em que ele é infalível e tem o poder de governar e reger a Igreja Católica.


LE BAISEMENT DES PIEDS DANS LA BASILIQUE DE SAINT-PIERRE A ROME

HAUDEBOURT-LESCOT, Antoinette Cécile Hortense, 1er quart 19e siècle

Musée National du Château de Fontainebleau